É época da tradicional poda seca ou de inverno das videiras na Serra Gaúcha. Nas encostas das propriedades, os viticultores intensificam esta importante etapa do cultivo da parreira, que está entrando na reta final. Com o atraso da chegada do frio, este ano a tarefa só deve ser concluída no início de outubro ? 15 dias depois dos anos anteriores. Pelo menos 30% dos 39 mil hectares de parreirais da região ainda não foram podados.
O engenheiro agrônomo do escritório regional da Emater-RS Enio Ângelo Todeschini lembra que o mês de junho quase não teve ocorrência de frio. Por isso, os agricultores foram orientados a atrasar ao máximo o corte dos galhos da videira. ?Uma forma de evitar a brotação antecipada e assegurar a dormência da planta?,- observa.
Mas a qualidade da produção, por enquanto, está tendo os requisitos para sua manutenção, pois já foram atingidas 400 horas de temperaturas abaixo de 7,2ºC nos últimos dois meses, perante a média histórica de 410 horas, informa Todeschini. O frio chegou mais tarde, mas foi contínuo, ou seja, de boa qualidade. Em agosto, por exemplo, o único pico de calor aconteceu esta semana. Se não ocorrerem geadas fortes fora de época, tudo se encaminha para uma boa safra no volume e de qualidade superior, explica o agrônomo.
Na propriedade do casal Roni, 70 anos, e Marta Castaldi, 66, no interior de Caxias do Sul, a poda tradicional do parreiral começou há uma semana. Em um hectare de área, eles cultivam as variedades Isabel e Niágara. Em maio, realizaram a poda antecipada (ver quadro ao lado) em 50% do vinhedo. Agora, o casal amanhece em meio às videiras para conseguir dar conta do trabalho dos restantes 50%.
O casal herdou dos pais e avós a paixão pela terra e pelo cultivo das parreiras. Ainda crianças ajudavam na lida com os vinhedos. E aprenderam muito com isso. Castaldi fala com orgulho da profissão que atravessou décadas. Segundo ele, lidar com a atividade exige conhecimento: ?É preciso entender a videira, conhecer sua história, seu vigor e sua capacidade de produção. Cada variedade exige um tipo de poda. Eu conheço as minhas plantas?, explica Castaldi.
A família mantém uma das mais tradicionais técnicas de amarração das plantas: enquanto seu Roni corta cuidadosamente cada ramo, dona Marta utiliza o vime (espécie de vara flexível) para sustentar as plantas. Atualmente, menos de 10% dos produtores da Serra utilizam o método ? a maioria usa máquinas com fitas/grampos, que agilizam o trabalho, mas, em alguns casos, acabam machucando os ramos. Marta cultiva sua própria produção de vime e não abre mão de utilizá-la durante a poda. ?É uma técnica ecológica e estabiliza muito melhor o parreiral?, destaca Marta.
Orientação profissional é fundamental - Este ano, a família Castaldi, no interior de Caxias, pretende colher 20 mil quilos de uva. Na região, a expectativa é de 750 mil toneladas. O casal tem por meta aumentar a produtividade nos próximos anos. Com a ajuda dos extensionistas da Emater, está investindo na estrutura de cobertura em parte dos vinhais, que é, praticamente, um seguro contra doenças e intempéries. ?O investimento é alto, mas que vai dar retorno na qualidade e quantidade da produção?. Castaldi alerta que, atualmente, só é possível se manter na produção de uva, com o acompanhamento de especialistas no assunto. ?A Emater me motivou a ingressar no Programa de Reconversão de Vinhedos da Embrapa e investi na renovação dos meus parreirais. Não me arrependo. Queremos permanecer na agricultura. Cultivar parreiras é uma arte que precisa ser atualizada a cada ano. A esposa, Marta, reforça: ?Estamos aqui porque nos incentivaram a ficar. Somos felizes nesta propriedade?!
Tipos de Poda - Nos parreirais da Serra Gaúcha são realizados dois tipos de poda de produção: a antecipada e a tradicional. Saiba quais as vantagens e desvantagens:
Poda antecipada: - O método surgiu há cerca de oito anos; - É realizada nos meses de abril e maio, quando as atividades do setor estão em baixa e, por isso, adianta o trabalho. - Os dias são menos curtos e o clima é mais ameno do que no inverno, preservando a saúde do produtor. - Os produtores, no entanto, correm o risco de as videiras brotarem antes da chegada do frio intenso ou de não ter horas suficientes na estação,- o que pode gerar prejuízos. - Para o agrônomo da Emater, a relação: risco versus benefício vale a pena.
Poda tradicional: - Realizada de meados de junho a 20 de setembro, o risco de uma brotação antecipada pela falta de frio é menor.
- Geralmente, os produtores precisam enfrentar dias gelados e úmidos nos parreirais, o que reduz o rendimento da prática cultural e pode afetar a saúde.
- Se tiver períodos longos de chuva, pode atrasar a poda e precisar de mão de obra extra para dar conta do trabalho.
*Ivanete Marzzaro/Pioneiro.com - *Emater RS Escritório Regional