Até final de 2019, ferramenta também ajudará produtores de maçã, morango e pêssego

Aplicativo usará inteligência artificial para identificar pragas

Sistema já está disponível em versão para web para uva


Engenheiro agrônomo Alexandre Frozza, da Emater de Bento Gonçalves, utilizou técnica para identificar fungo no parreiral - Foto: Gilberto Luiz Salvador/Divulgação

Na agricultura, a inteligência artificial já ajuda produtores de uva a identificarem com agilidade doenças e pragas no vinhedo, como míldio, oídio, pérola-da-terra e filoxera, entre outros distúrbios fisiológicos e problemas. O chamado sistema especialista ajuda técnicos e agricultores a reconhecerem pelo menos 35 possíveis situações que prejudicam a produção. A ferramenta foi concebida pela Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves. Até o final do ano, será lançado um aplicativo para celular. E, no próximo ano, produtores de maçã, morango e pêssego também poderão utilizá-lo.

Por meio de banco de dados que reúne o conhecimento de especialistas e utiliza inteligência artificial, o Uzum - que significa uva em turco - tem capacidade de interagir com o viticultor. Além de mostrar fotos para que ele compare com o parreiral, o sistema faz diversas perguntas ao usuário, que precisa informar os sintomas. Ao final do questionário, apresenta uma análise inicial,  orientações e possíveis soluções. O acesso é gratuito

"A principal vantagem é ter diagnóstico rápido, para agir antes que a doença se espalhe, minimizando os danos",   explica o agrônomo Flávio Bello Fialho, pesquisador em modelagem de sistemas da Embrapa Uva e Vinho, destacando que o sistema também ajuda a prevenir perdas e a reduzir custos na aplicação de insumos nas lavouras. 

Tecnologia será adaptada para smartphone e tablet - O engenheiro agrônomo Alexandre Frozza, extensionista da Emater de Bento Gonçalves, é usuário assíduo da tecnologia. O técnico recorda episódio em que o Uzum foi decisivo para contornar a podridão cinzenta, doença que acomete o vinhedo em períodos de chuva.

"Com o sintoma na folha do parreiral de merlot e cabernet, consegui identificar a tempo, antes que atingisse a floração",  lembra Frozza, acrescentando que a ferramenta ajuda a economizar tempo, pois direciona para um grupo de doenças que pode estar causando o problema, limitando as possíveis causas. 

Os novos sistemas, que estão sendo desenvolvidos para aplicativos de celulares e tablets, terão capacidade para reconhecer maior número de doenças e pragas. As fotografias disponibilizadas pela ferramenta também serão atualizadas. Atualmente, o Uzum está disponível no site embrapa.br/uva-e-vinho/uzum.

Controle de insumos e de água reduz custo - Pensando em reduzir o uso de água na irrigação, o engenheiro mecatrônico Thiago Cruz, pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), desenvolve estudo que prevê manejo eficiente a partir da inteligência artificial. Com uma rede de sensores instalados no campo, é possível monitorar em tempo real condições climáticas e irrigar somente quando necessário. 

Entre os resultados esperados pelo pesquisador está a diminuição do uso e do desperdício de insumos químicos. Outro efeito positivo é a menor poluição dos recursos hídricos.

A tecnologia, tema da tese de doutorado em Engenharia de Biossistemas, pretende viabilizar economicamente o acesso de agricultores familiares à irrigação.

O sistema foi pensado para atender desde pequenos cultivos, como pimentão e rosas, até lavouras maiores, como pastagem para gado de leite, arroz e soja.

"Existem várias formas de inteligência artificial e, em todas elas, a gente se inspira na natureza",   explica Cruz, que é mestre em Robótica Bioinspirada.

Segundo o pesquisador, é comum os algoritmos se basearem em comportamentos de formigas, abelhas e peixes, por exemplo.  Entretanto, Cruz ressalta que toda a parte de robótica sempre tenta chegar perto da perfeição humana. Por isso, o sistema também funcionará por meio de redes neurais que imitam a lógica dos neurônios humanos. A pesquisa tem aporte de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

"Onde tiver dados, é possível aplicar inteligência artificial".   enfatiza a engenheira Claudia Bauzer Medeiros, coordenadora-adjunta do Programa Fapesp de Pesquisa em eScience e Data Science. Doutora em Computação, Claudia ressalta que "a pessoa a olho nu não detecta padrões, mas a inteligência artificial, sim". *ZH/Campo e Lavoura

Comentários