Colheita mecanizada de uvas em sistema latada - Uma realidade

A mecanização na produção de frutas avança a cada safra, tecnologias que antes eram caras, hoje o produtor bom valor de compra

14/12/2015 01:00
Colheita mecanizada de uvas em sistema latada - Uma realidade

Em junho deste ano (2015), escrevi um artigo sobre a colheita mecanizada de uvas, dando destaque à colheita de uvas finas em sistema de condução em espaldeira. Fui também questionado com relação à possibilidade de colheita em sistema latada e, para os que pude, expliquei já existir tecnologia. A tecnologia foi trazida do Chile por uma empresa da Serra Gaúcha e já está disponível aos produtores, o vídeo abaixo foi disponibilizado pela empresa:

Pois bem, na última Jornada da Viticultura (2015), realizada no município de Ipê, alguns inventores que fizeram uma versão caseira do implemento agrícola a apresentaram aos viticultores e, agora, na Tecnovitis em Bento Gonçalves, a apresentaram novamente. O objetivo dos inventores é produzir comercialmente a colhedora. Além do mais, a própria empresa do vídeo anterior já está fazendo um esforço para a comercialização do implemento. Na edição do dia 2 de dezembro de 2015 do Jornal do Almoço (RBS TV) da região da Serra Gaucha, foi dado destaque à invenção dos agricultores. A reportagem pode ser conferida no link: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/jornal-do-almoco/videos/t/edicoes/v/uma-novidade-pra-safra-de-uva/4649191/ Considerando que a mão de obra é um dos maiores gargalos da produção vitícola hoje, sobretudo a de uvas comuns, esse sistema atrai a atenção da comunidade produtora de uvas. Resta saber se será viável e eficiente. Ao que tudo indica, teremos uma grande mudança no sistema de produção de uvas na Serra Gaúcha dentro dos próximos anos. PS: O texto com uma análise sobre o cenário e sobre a tecnologia de colheita mecanizada pode ser conferido no link abaixo: Colheita mecanizada de uvas: um caminho sem volta

A automatização não só é uma tendência também no mundo dos vinhos como já é uma realidade. E o controle de temperatura automatizado nos tanques de fermentação é apenas um dos exemplos disso.

Uma das principais dificuldades dos viticultores, pequenos ou grandes é a questão da mão de obra. São várias as práticas em que é necessária uma grande quantidade de mão de obra, a exemplo das podas, desfolha e, principalmente, a colheita. Em virtude disto, a colheita mecanizada vem ganhando espaço no cenário da viticultura, tema sobre o qual dissertarei abaixo:

Há cada vez mais adeptos pelo mundo à colheita mecanizada, o que ainda é tema controverso, uma vez que muitos preferem o trabalho manual e garantem que nada substitui os cuidados humanos com a colheita para conseguir frutos de qualidade. Entretanto, com as dificuldades de conseguir mão de obra e o alto custo dela, se torna mais barata a colheita mecanizada, o que viabiliza a produção em muitos casos, principalmente em áreas maiores. 

Outro fator a ser considerado é o tempo de duração da colheita. Normalmente, os agricultores iniciam o trabalho nas primeiras horas do dia e terminam no início da noite. Enquanto isso, as caixas de uvas colhidas ficam expostas ao sol, inclusive nas horas mais quentes do dia. Fora outros imprevistos, como chuva sobre as caixas colhidas. Dessa forma, quando o caminhão é carregado para o transporte, as uvas já tiveram a qualidade depreciada consideravelmente.

Já, com a colhedora mecanizada, o processo é muito mais rápido, em poucas horas os vinhedos são colhidos. E isto é importante para colher no ponto certo de maturação e nas horas mais amenas do dia, enviando as uvas para o transporte até a cantina de forma rápida. 

O principal argumento dos contrários ao sistema mecanizado é que a máquina não seleciona as uvas a serem colhidas, misturando verdes, maduras, podres, além de folhas, na produção colhida. É fato que com a colheita manual de forma cuidadosa, é mais fácil controlar a qualidade da colheita, mas quem já passou 10 horas seguidas por dia colhendo uvas pode comparar a qualidade da seleção, os cuidados e a limpeza das uvas no início com o final da vindima. É um trabalho bastante oneroso. 

Por outro lado, a máquina oferece regulagens de vibrações e, dependendo da intensidade vibração, irá colher uvas mais verdes ou mais maduras. Para entender isto, basta lembrar que frutos maduros caem das plantas sozinhos, por processos fisiológicos. Essa regulagem também é importante para os cuidados de ferir mais ou menos os frutos. Dessa forma, pode-se dizer que a qualidade da colheita varia com o interesse do produtor e com o seu domínio da tecnologia. Quanto à mistura com folhas, há processos físicos automatizados de separação do sólido do líquido (centrifugação) que podem permitir um mosto sem sólidos para a elaboração do vinho, além de um ventilador na própria colhedora que afasta folhas que podem cair junto aos frutos.

Particularmente, penso que há espaço para os dois processos e para as várias ideologias e filosofias, ao mesmo tempo em que penso que a vinda de sistemas automatizados é um caminho sem volta, por viabilizar sistemas de produções, diminuindo custos e, até por facilitar o controle sobre os processos. O que não elimina a valorização e agregação de valor a quem se recuse a tomar esse rumo, quem prefira elaborar vinhos ?naturais? ou a partir de conceitos mais puristas. Talvez este seja um caminho que viabilize a competição dos vinhos brasileiros com importados, ao diminuir custos e entregar vinhos a preços mais aces- síveis ao consumidor comum.

Veja vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=A2W5lYWo8m4

Leandro Ebert - Engenheiro Agrônomo - Criador do Portal Vitivinicultura 

 





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