Moscas já representam um problema para o Brasil
Apesar de livre da mosca-da-carambola, o Brasil abriga outros tipos de moscas que causam prejuízos aos produtores e limitam as exportações brasileiras
Apesar de livre da mosca-da-carambola, o Brasil abriga outros tipos de moscas que causam prejuízos aos produtores e limitam as exportações brasileiras de frutas. A mais importante delas, a Ceratitis capitata, também conhecida como mosca-do-mediterrâneo, foi identificada pela primeira vez no País há mais de 100 anos, no estado de São Paulo. Até o início dos anos 1980, estava restrita às regiões Sudeste e Sul, mas hoje está presente em praticamente todo o território brasileiro, atacando mais de 50 espécies frutíferas, entre elas as culturas de citros, uva e acerola. De acordo com o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), estima-se uma perda de 30% a 50% em áreas infestadas pela praga.
Outras moscas de importância econômica presentes no Brasil são a Anastrepha grandis (que ataca principalmente o melão, a melancia e a abóbora) e a Anastrepha fraterculus (maçã, pêssego e mamão), também amplamente disseminadas pelo País. Dados do Ministério da Agricultura mostram que essas pragas causam um prejuízo anual de até US$ 120 milhões aos produtores brasileiros entre perdas de produção e custos de controle. A presença das moscas também inviabiliza a exportação de frutas frescas para mercados mais exigentes - e rentáveis -, como Japão, Estados Unidos e Chile.
No final de 2015, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, anunciou um investimento de R$ 128 milhões até 2018 para o combate das moscas-das-frutas no Brasil. O objetivo do Governo é suprimir a população dessas pragas e aumentar as áreas livres, expandindo o número de propriedades aptas a exportar. Durante a solenidade de lançamento, Kátia Abreu destacou que as moscas não trazem riscos à saúde humana, mas causam grandes impactos econômicos. "Se um produtor produz 100 quilos e perde 30 com essa praga, ele vai vender mais caro para pagar seus custos. Já para a exportação, os produtos não são aceitos por receio de as moscas invadirem os pomares de outros países", disse a ministra.
O aumento do trânsito de cargas e pessoas, observado a partir dos anos 1960, tem favorecido a disseminação de diversas espécies invasoras ao redor do mundo. Os países produtores, portanto, precisam garantir a sanidade das mercadorias importadas. O Brasil posssui, desde 2003, uma área de pouco mais de 14 mil quilômetros quadrados reconhecida internacionalmente como livre da Anastrepha grandis. A região, que abrange 20 minicípios nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, é a única habilitada a exportar frutas para países como Estados Unidos, Chile e Argentina. A produção nesta área, porém, é limitada e impede o aumento das exportações brasileiras.
"Estamos buscando o reconhecimento de uma área geográfica maior, o que permitiria que outros municípios produzissem frutas para exportação", afirma o fruticultor Tom Prado, da Itaueira, que possui fazendas no Ceará, Bahia e Piauí. "Hoje, eu só posso exportar das fazendas dentro das áreas livres. Com o reconhecimento de novas áreas, eu poderei exportar também a produção das outras propriedades. Países como os Estados Unidos, que são livres da Anastrepha grandis, exigem que você tenha a certificação para não correr o risco de uma eventual entrada da mosca", explica.
O Brasil exporta cerca de 3% de sua produção total de frutas - quase 790 mil toneladas em 2015. Apenas como comparação, as exportações de açúcar chegam a 68%, as de café a 53% e as de milho a 28%. Tudo isso sem causar qualquer tipo de desabastecimento no mercado interno. O potencial de crescimento das exportações de frutas é gigantesco, mas as barreiras fitossanitários ainda prejudicam o País.
Uma missão do Ministério da Agricultura da China esteve no Brasil no final de janeiro com o objetivo de conhecer as principais áreas produtoras de melão e melancia do Nordeste. Os técnicos visitaram a região da Serra do Apodi, no Ceará, já considerada livre da Anastrepha grandis, com o objetivo de retirar as barreiras fitossanitárias atualmente existentes para as frutas brasileiras. De acordo com a Abrafrutas, a abertura do mercado chinês para o melão e a melancia, poderia significar um incremento de até US$ 230 milhões ao ano às exportações brasileiras. * Nicholas Vital/Istoé Dinheiro